domingo, 7 de abril de 2013

É sobre a sobrevivência do estado português...

por 
João Pires da Cruz
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Eu não subscrevi o Manifesto “Despesa Pública menor para um Futuro melhor ” por achar que não vai haver redução da despesa pública. Na verdade, eu tenho a certeza que vai haver. Eu subscrevo por achar que eu e cada um dos meus concidadãos deveremos ter uma palavra a dizer na forma como essa redução vai acontecer. E pensei que tinha tido, nas últimas eleições.

Sempre fui extraordinariamente optimista face à crise que vivemos. Ao contrário de boa parte das pessoas com quem falo, sempre encarei esta crise como uma crise de crescimento. Alguns dos países crescem melhor que os outros mas, no fim, estão todos a crescer para um novo estágio da evolução humana, aquele em que o conceito de estado tal qual nós o conhecemos vai surgir nos livros de História como um conceito tão exótico, como para nós nos aparecia a Inquisição ou as Cruzadas. Os estados, que cumpriram com sucesso o papel que lhes estava destinado num mundo que guerreava por recursos naturais, não são aqueles que devem existir num mundo em que uma canção coreana é vendida e ouvida 10 segundos após a sua produção em Idanha-a-Nova. Por isso, deve ser encarado como natural que exista um desajuste entre aquilo que estado português gasta e o seu real valor económico actual. O que não é natural é que não se faça nada para compensar esse desajuste.

A adequação da despesa ao valor económico vai ser feita. Não porque o estado vá ganhar valor económico, num contexto em que todas as funções fundamentais dos estados europeus são essencialmente iguais, mas porque a quantidade de dinheiro que vai passar pelo estado será reduzida. Ou porque nós, os portugueses, nos conseguimos organizar neste enorme condomínio para reduzir a despesa onde nos interessa, ou porque resolvemos o problema de vez dissolvendo esta sociedade em que nos metemos há 900 anos por se ter tornado economicamente inviável. 

De uma coisa estou razoavelmente certo, para trás não iremos voltar. Há um custo máximo que Portugal está disposto a suportar para salvar a República Portuguesa. Portugal já não é, felizmente, o Portugal em que os meus pais viveram. Cumpriu o seu sonho de entrar no primeiro mundo, de ser um país europeu de gente extraordinária, educada, culta, capaz de fazer milagres a partir de quase nada. Sede de empresas globais, casa de profissionais únicos que lidam com os seus contrapartes europeus todos os dias como no tempo dos nossos pais se lidava com o colega da secretária ao lado. Por isso, Portugal não vai sair do euro, não vai voltar atrás.

Concluindo, este manifesto não é, para mim, uma manifesto a favor da economia portuguesa. Essa, não precisa de ter ninguém a favor, só precisa de ter portugueses. É um manifesto a favor da sobrevivência do estado português, com tudo aquilo que é realmente importante defender para este agregado de pessoas que vive neste privilegiado rectângulo à beira do Atlântico. Sim, estou extraordinariamente optimista relativamente ao futuro de Portugal no mundo. Mas quanto à República Portuguesa, já estive mais.

3 comentários:

  1. Com um crescimento economico de 2% ao ano desde 1991 não teriamos qualquer problema financeiro.

    O problema é o fraqussimo crescimento económico nos ultimos 20 anos, que nos atrasaram muito em relação ao mundo desenvolvido e em desenvolvimento.

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  2. Caro Paulo Pereira,

    Com todo o respeito pela sua opinião, que não está errada em si mesma, a medida do crescimento económico é como a medida da febre. Diz-nos que está mal, mas não o que está mal. Este manifesto encerra muitos diagnósticos com que concordo e vão no sentido do seu comentário e que, estou certo, também concorda. Como me convidaram para produzir outros artigos, eu decidi correr os temas um a um e, se não matar o pessoal de tédio, o convidava depois a comentar aquelas que acho que são as causas dessa falta de crescimento.
    Cumprimentos,

    JPC

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  3. Eu nem vou ver o manifesto! Os sinais estão à vista. Eu não vou ler uma coisa que me agride do ponto de vista estético com um murro no estômago. Há sinais que me afastam. Uma mão fechada que se projecta na minha direcção não me pode trazer nada de bom. Preferia a palma de uma mão virada para mim em sinal de paz.Agora um murro... meu deus, meus deus, porque dais tanta agressividade aos salvadores da pátria!!!!

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